sexta-feira, 9 de março de 2018

9 Razões para encerrar a Guerra Contra a Maconha


Al Harrington, NBA / Retired - The Players' Tribune
Eu me lembro da primeira vez que minha avó usou maconha. Ela tinha 80 anos de idade. Nós estávamos sentados na minha garagem em Denver em 2011. Eu quase cai da cadeira quando ela me disse que usou. Ela estava 100% séria.

Mas a história é ainda mais louca quando eu te contar quem é a minha avó. Ela é uma pequena e doce senhora cristã chamada Viola que ainda me chama de Bebe. Você sabe o que? Não fico bravo com o apelido. Nós sempre fomos muito próximos.

E outra coisa, ele sempre teve medo de maconha. Ela cresceu acreditando no que o governo dizia sobre maconha — sobre como era perigoso quanto outras drogas omo Extasie e heroína. Você sabe, todas aquelas coisas que ouvimos sobre como você se torna um criminoso, uma pessoa má... Um bandido.

De volta a 2011, estava ei e minha avó — a mulher que ainda carregava a Biblia com ela quando ela viajava — estávamos na garagem. E nós estávamos lá conversando quando ela disse que estava lutando contra uma dor crônica por um longo período. Foi um dia que eu nunca esquecerei. Minha vó nunca me disse sobre essa dor antes. Ela começou falando sobre o constante problema nos seus olhos. Estava ficando pessímo ao ponto de afetar sua visão. Foi difícil para mim ver ela daquele jeito.

“É você, bebê? Eu mal consigo te ver.” Ela dizia coisas desse tipo, foi difícil.


Ela me disse que os seus médicos prescreveram para ela analgésicos e outros remédios. Eles não estavam ajudando e estavam deixando ela apática e depressiva.  Ela estava mal. E estava assim por anos.

O uso de maconha já era permitido no Colorado, mas eu não tinha mexido com isso ainda. Eu ainda estava na liga e a NBA fazia testes antidrogas. Mas ainda mais que isso, eu tinha uma visão antiquada sobre isso. Eu via do jeito que eu via quando era criança, uma droga assustadora e nada mais que isso.

Mas no seu segundo dia comigo, ela me chocou aceitando em tentar. É bom você lembrar, essa é uma velha devota de Deus do Sul que nunca tocou em nenhuma droga antes na sua vida. Ela não bebia álcool. Ela não gostavam nem de ir em restaurantes. Minha avó cara... Moda antiga. Mas ela estava desesperada por uma alternativa.

Nada mais foi o mesmo desde que ela usou.
O dia seguinte após ela ter usado maconha pela primeira vez, ela ligou para minha mão para contar tudo a ela. Minha mãe recorda a conversa porque ela estava muito chocada. Na gravação, você consegue ouvir minha vó dizendo que o mundo ficou mais “brilhante”. Ela estava chamando isso de milagre. “Eu consigo ler minha Biblia de novo!” ela estava dizendo. Desde então minha avó continuou a usar maconha e ela achou a dose certa para os seus sintomas. Ela tem muito menos dor, e é incrível que ela consegue enxergar.

Agora você conhece um pouco sobre minha avó. Ela é muito legal.
Agora deixe-me te perguntar uma coisa, minha avó está fazendo algo de errado? De acordo com as leis federais, sim. Ela está cometendo um crime.

É aí que estamos? Nós realmente estamos tentando por as vovós na prisão por usar maconha para tratar a dor?

Eu vou contar a você qual a estatística sobre a maconha é mais importante na minha opinião. Primeiro nós vamos voltar para os anos 80, de volta a  Orange, New Jersey, onde eu cresci e vivi até o high school. Sabe quando as pessoas dizem “Você sabe de onde eu vim?” Orange é o tipo de lugar que as pessoas dizem que se você viveu, você conhece.

Para imaginar onde eu vivia, imagine um enorme complexo em forma de “U”. Tinha centenas de apartamentos naquele complexo. No centro do “U” tinha um grande espaço de grama onde eu e outras crianças jogamos futebol, baseball quando tínhamos 10,11,12 anos de idade. Quase todos os dias depois dos jogos todo mundo iria para uma pequena loja de conveniência na esquina entre Tremont and Scotland. Eu geralmente pegava uma agua e um chips, custava algo em torno de 65 centavos. No fundo da loja tinha aquele vídeo games — Street Fighter e NBA Jam. Se nós ainda tivéssemos dinheiro nós jogaríamos aqueles jogos. Caso contrário iriamos para fora passar o tempo com as outras crianças.


Eu vivi durante a guerra contra as drogas. Eu não sabia como isso se chamava. Mas eu sabia o que eu via. Quase toda semana, uma hora ou outra o carro da polícia iria aparecer na esquina. Se tivesse um grupo de jovens negros na esquina, era apenas questão de tempo. Isso era normal para nós. Nós estaríamos lá fora e polícia chegaria e faria nós esvaziar nossos bolsos. Eles procuravam drogas em nós, faziam a gente ficar contra a parede, aquele rotinha. “Quem tem drogas? Me mostre as drogas.” Mas eu e meus amigos nunca tivemos nada. Eu nunca mexi com maconha quando era criança. Eu sabia que minha mãe iria me matar se isso acontecesse. Eu tinha 12 anos cara — aquela merda era assustadora. As sirenes paravam e você era procurado por caras com arma. É louco — eu sempre senti como se estivesse fazendo algo de errado, mesmo não fazendo. 

Na Orange, era mais maconha o que eles procuravam. Eu tenho certeza que tinha coisas pesadas lá, mas eles procuravam mais drogas. Era o ghetto — e o ghetto significa erva barata. As pessoas vinham de todos os lugares para pegar.

As vezes, algumas crianças eram pegas. Algumas vezes você não ouvia mais falar delas depois disso. Hoje eu tenho 37 anos e algumas vezes eu ainda me questiono o que aconteceu com alguma daquelas crianças. Talvez eles tenham se acertado. Mas qual é cara, se você é do bairro, você ouve tantas histórias — a vida muda pra sempre, relações mudam para sempre, homem negro que não consegue um emprego porque eles foram pegos com maconha. 

Eu me mudei de Orange para um lindo bairro no High School. Depois fui para a liga. Pela primeira vez em minha vida eu estava conhecendo pessoas com diferentes histórias de vida. Alguns com berço de ouro, outros de lugares como Orange. Maioria deles foram para a faculdade. 

Conversando com eles, eu ouvi outro lado da guerra contra as drogas. Do jeito que eles descreveram, a maconha estava em todos os lugares nos subúrbios e nas faculdades. Mas a polícia não ligava muito pra isso. Eu via pessoas vendendo erva como se fosse nada — nunca foram pegos. Eu estava vendo como todo mundo fumava maconha na faculdade como se fosse apenas mais uma aula. Basicamente eu vi como a polícia em algumas comunidades não estava realmente policiando a maconha do mesmo jeito que eu conhecia.


Certo, agora eu vou finalmente te contar a estatística. Eu vi isso uns dois anos atrás:


A taxa de usuários de maconha é relativamente similar entre as diferentes raças. Mas os negros são quase quatro vezes mais pegos por isso.



Pense sobre isso por um segundo. Em outras palavras, todo mundo usa maconha em um mesmo nível, mas nem todos são punidos iguais.

A guerra contra a maconha custa em torno de $3.6 bilhões por ano, mas isso não tem parado ou abaixado o uso da maconha.

Mais importante, a vida de muitas pessoas fora alterada por usar ou vender algo que é legal hoje em vários estados. Hoje, a indústria da maconha faz bilhões de dólares e ainda tem gente em outras partes do país, maioria as minorias se quisermos ser real sobre as estatísticas, que são encarcerados pela mesma substância.

Talvez eu não sabia a definição de Guerra das Drogas quando eu tinha 12 anos de idade, mas agora eu sei. Não era uma guerra contra as drogas. Era uma guerra contra certas pessoas que usavam drogas. E isso é um fato.







Eu encontrei dor no início da minha carreira. Então eu encontrei as pílulas que eles dizem que vai ajudar você. Tive a sorte de nunca me enganar.

Depois do meu segundo ano na liga, tive que ter uma cirurgia nas costas. Foi a minha primeira vez sabendo da verdadeira dor e do sofrimento prolongado. A inflamação nas minhas costas e, depois, em meus joelhos, foi uma batalha, que eu lutei em toda a minha carreira. Os médicos me deram Vicodin e outros analgésicos fortes durante o mês ou dois logo após a cirurgia, quando a dor estava realmente forte. Mas então eu parei. Eu realmente não gostei do jeito que eu senti. Eu estava tendo todos os tipos de efeitos colaterais - dores no estômago, sentindo-se toxicosa. Foi terrível.

Mas eu me considero sortudo, não forte. Era uma janela para o mundo dos opiáceos. Os analgésicos fazem o que o nome diz. Eles acabam com a dor. Mas é temporário... e então você precisa de mais apenas para mascarar a mesma dor. Talvez você visse esta estatística: este ano, 64 mil pessoas na América morreram de overdoses em opioides. Quando eu li isso, meu primeiro pensamento era sobre o quanto o vício começa com uma lesão real, como a que eu tinha com as minhas costas. E, em seguida, sai fora de controle a partir daí. É por isso que eu me considero sortudo.


A coisa mais comum que foi prescrito para mim foi algo chamado “Celebrex”, para inflamação. Eu joguei por 16 anos, e maldito seja, quase toda minha carreira eu estava usando algum tipo de pilula para inflamação . Eu tomava dois Celebrex na manhã e um a noite para inflamação, apenas para estar apto a treinar ou jogar ou passar o dia. Eu provavelmente ainda tenho caixas de Celebrex em alguma gaveta na minha casa. Olhando para trás, quem que sabe se isso vai ter algum efeito em mim futuramente. Mas ninguém realmente fala sobre os efeitos a longo prazo. Você apenas deve tomar a pílula e deixar isso fazer o seu efeito. Você ve esses comercias na TV onde o narrador está sempre parecendo feliz quando ele lista 43 efeitos colaterais? “Vai curar isso — mais o seu glóbulo ocular vai cair fora!”... “Você vai se sentir feliz mas tem a chance de morte súbita!” é loucura cara. Nós chegamos a um lugar onde os efeitos colaterais são como apenas um pequeno ruído. Eu desafio você me dizer quantos casos de overdoses foram causados por maconha. Eu vou esperar.

Como eu disse, eu nunca usei maconha quando eu estava na liga, mas eu tentei de tudo que os médicos falavam. Depois da minha carreira, quando eu tinha uns 32, depois de ver o que a maconha fez para a minha avó eu usei “cannabidiol” que é a não psicoativa forma disso — você obtém os efeitos anti-inflamatórios e o alívio da dor sem o THC, o produto químico na maconha que te deixa leve. Peguei o cannabidiol (CBD) como um creme ou óleo que poderia ser esfregado por via tópica.

Olhe, eu não estou tentando te dar conselhos médicos, eu só vou dizer o seguinte — a maconha mudou minha experiência com a dor. Tem melhorado, com menos efeitos colaterais que qualquer outro médico já tenha me dado. Hoje, aos 37, depois de 16 anos na NBA, com cirurgia nas costas e todas as outras dores no meu corpo, eu ainda estou jogando basquete toda semana em L.A. Encontre me lá. Corridas a tarde nas terças e quintas. Você não quer nada disso!







Alguns anos atrás eu co-fundei um empreendimento que produzia Cannabis não psicoativa quanto os produtos baseados em THC. A maconha mudou a minha vida com relação a dor. Agora é o meu segundo chamado depois do basquete. E de certa maneira, tudo volta aquele dia sete anos atrás na garagem com minha avó.
Sendo a minoria na indústria da Cannabis me fez perceber o quão raro ainda é. Por isso que eu sou ativo na “Minority Cannabis Business Association”(MCBA). A MCBA é sobre crescer o acesso e o fortalecimento para as minorias na indústria. É resumidamente isso: Nós somos a comunidade mais afetada pela Guerra contra as Drogas. Agora que a maconha é permitida em várias partes do pais, nós não deveríamos ficar sentados enquanto a indústria decole.




O álcool faz parte da NBA. Você não ouve muito sobre isso, mas ele está lá. Voa sob o radar.

Essa é a realidade: Os jogadores da NBA são afetados pela ansiedade e o estresse. Nós somos iguais qualquer outra pessoa que trabalha o dia inteiro em um emprego que envolve o lado emocional e fisíco, com altos e baixos.

Muitos jogadores da NBA tomam um pouco de bebida alcoólica diariamente. Eu vi o progresso onde eles bebiam mais do que um copo — apenas para relaxar um pouco ou aliviar alguma dor. Logo logo, é fácil começar a fazer isso após os jogos. A dor é parte dos esportes. Atletas irão procurar maneiras de aliviar essa dor. 

Não vou dizer nomes, mas nos meus 16 anos na liga, eu conheci pelo menos 10 ou 12 jogadores que tiveram suas carreiras encurtadas por causa do álcool. Afetava eles tanto fisicamente como mentalmente, mas de um jeito ou de outro, álcool encurtou suas carreiras. Sem julgamentos da minha parte, apenas fatos. Nós todos deveríamos ser honestos. É sabido o quanto o licor pode destruir vidas. Mas nós ainda estamos desmoralizando a Cannabis enquanto álcool é promovido nos eventos de esporte? Tudo começa com alguma honestidade.





Jeff Sessions, cara. Eu quase o deixei fora disso... Porque eu geralmente não entro em assuntos políticos.

Mas então eu pensei, nós não podemos simplesmente deixar os políticos de fora.

Você talvez viu como Sessions, o procurador geral, disse, alguns dias atrás, como ele planeja reforçar as leis federais contra a maconha em estados onde já é permitido o uso da mesma. Sessions diz que a maconha é uma questão federal.

Mas acho que ele está confuso sobre sua própria política.

Quando se trata dos votos das pessoas nos estados onde a cannabis é legal, as sessões são sobre o poder do governo federal. Mas então, quando se trata de leis que tornariam mais fácil para as minorias votarem, ele é um homem de direitos dos estados?

Jeff Sessions, cara.




As pessoas jovens devem correr para o cargo público. Esse é o meu primeiro pensamento nesse assunto. 

Mas não apenas isso, eu tenho alguns conselhos para vocês: Se você quer vencer, faça a legalização da maconha uma das suas principais questões. Você pode vencer nessa questão sozinho, eu realmente acredito nisso. Porque não é apenas sobre a legalização, trata-se de abordar o racismo, policiamento, o sistema prisional, leis de sentença — tudo isso. A descriminalização da maconha é uma das questões que dividem os partidos.

Alguns políticos entendem o que nós deveríamos fazer. Eu sou grato que o senador de New Jersey Cory Booker introduziu o ato da justiça da maconha um projeto inspirado na Proposição 64 da Califórnia que acaba com a proibição federal de maconha e concentra-se em comunidades mais devastadas pela Guerra contra Drogas. Eu trabalhei com a “Drug Policy Alliance” para apoiar a Proposição 64 aqui na Califórnia. Agora continuo meu apoio ao projeto de lei do senador Booker. Espero que você leia sobre isso e veja por que isso faz sentido em um nível de direitos civis e um nível de senso comum.






Eu acredito que 70-80% dos jogadores da NBA hoje utilizam a maconha em alguma forma. Não estou exagerando. Eu não faço nenhuma pesquisa ou algo do tipo. Eu apenas joguei na liga por 16 anos, e essa é a minha opinião.

Devido a proibição da Cannabis pela NBA, muito dos atletas fazem o uso na offseason. E eu realmente acredito que o número é alto assim.  

Aqui está a razão porque eu estou te contando. Esses caras são Super Estrelas na NBA. Não é o último cara do banco que está no seu sofá “ficando leve”. Eles são ícones globais — líderes, companheiros de equipe, pais, cidadãos. Esses são atletas de classe mundial cara. Eles tem dor, estresse e ansiedade e tudo o que um humano tem. A NBA nunca foi tão  habilidosa ou legal de assistir.

Então me diga: A Cannabis está ruinando a vida desses atletas? Ou nossas leis e ideias estão atrasadas?

Eu comecei com uma estatística, agora vou encerrar com outra.  É de preencher o espaço vazio, toda resposta é a mesma.
  1.      É estimado que 88,000 pessoas morreram de ________ - causas relacionadas anualmente.
  2.       Em 2014, a Organização Mundial da Saúde relatou que ______ contribuiu para mais de 200 doenças e problemas com dores.
  3.      O consumo de ________ eleva o risco de câncer de boca, esôfago, faringe, laringe, fígado e mama.

Preencha cada resposta ou com maconha ou álcool.
Eu preciso te contar as respostas?





O link para a carta original no Players Tribune está aqui.